Me perdi, e agora?

Nos próximos dois artigos iremos discutir dois aspectos relacionados a estar perdido na montanha: o que fazer (como se comportar) e problemas médicos que podem se desenvolver.

Neste primeiro artigo contamos com a colaboração de Alan Jacob da Rosa, membro fundador do GRM (Grupo de Resgate em Montanha) – um grupo de busca e resgate voluntário de SC, que nos forneceu algumas dicas de planejamento e de comportamento para que você tenha maiores chances de ser encontrado rapidamente caso se perca na montanha.

ANTES DO TREINO:

Antes de iniciar seu treino, busque informações confiáveis sobre a trilha e veja a previsão do tempo. É sempre melhor ir com mais alguém junto, mas caso vá sozinho, escolha locais mais movimentados. Procure treinar de dia, pois a orientação noturna fica prejudicada e dificilmente será feito um resgate noturno.

Vá com seu celular carregado, deixe-o no modo avião para preservar a bateria. Leve um GPS especifico para trilhas e baixe o tracklog da trilha que pretende treinar, não use o celular como principal meio de navegação. Informe familiares e amigos sobre o local do treino e o horário que pretende retornar.

DURANTE O TREINO:

Costuma-se confiar no primeiro na fila, mas é muito importante ficar atento constantemente se estão no caminho certo; evite pegar atalhos que você não conhece.
Procure não se distanciar muito dos seus parceiros de corrida a ponto de perde-los de vista.

ME PERDI, E AGORA?

Caso você venha a se desorientar durante o treino siga os seguintes passos: Aceite a situação… Pronto, estou perdido! E siga o acrônimo E.S.A.O.N:

– Estacionar: Pare onde está!
– Sentar: para descansar;
– Alimentar-se: para um melhor raciocínio;
– Orientar-se: com calma para tentar descobrir onde foi que errou a trilha;
– Navegar: ande somente após estar novamente orientado da direção certa da trilha.

Após praticar o ESAON e não conseguir encontrar a trilha, PARE! Hora de acionar o resgate!

Ache um local mais elevado e aberto que possa funcionar seu celular. Faça contato via WhatsApp, informando o que aconteceu, seu estado de saúde, e se possui recursos.
Compartilhe a sua localização, se tiver GPS ou algum APP de navegação no celular, poderá passar as suas coordenadas. Ligue para os Bombeiros (193). Desligue o seu celular e só ligue nos horários combinados com o resgate, economize bateria.

NÃO CONSEGUI SINAL DE CELULAR, O QUE FAÇO?

Ainda assim, envie as mensagens de texto para seus familiares, elas ficarão na nuvem e serão enviadas no momento em que o celular conseguir rede. Nessas mensagens tente passar o máximo de informações que sejam uteis para a equipe de resgate. Como pontos de referência na paisagem, estado de saúde, seus recursos, coordenadas ex: vejo uma parede de rocha ao norte. Passei por um riacho onde tinha uma corda fixa. Escreva SOS com galhos, pedras e peças de roupas coloridas em uma clareira. Se avistar alguma aeronave faça sinal com materiais refletivos tais como espelho, lata de refrigerante, manta aluminizada, entre outros.

IMPORTANTE! Tendo conseguido ou não fazer contato para chamar ajuda, evite ficar deslocando-se na mata a não ser que seja para tentar sinal de celular, procurar um abrigo, ou pegar água e alimentos; caso contrário, permaneça estacionado no local, é mais fácil rastrear você se estiver parado!

Construa um abrigo, faça uma fogueira, ela irá te aquecer, iluminar, proteger contra animais, secar roupas e sinalizar com fumaça para o resgate. Priorize utilizar um apito para tentar se comunicar com a equipe de resgate. Racione seus alimentos e água. Lembre-se de fazer marcações nas árvores para poder voltar para o seu abrigo. Cuide da sua higiene pessoal.

Se você seguiu todos os passos do planejamento antes do seu treino de corrida, os seus familiares irão sentir a sua falta e acionar o resgate. Tenha fé no resgate, pois o desespero é que leva a maioria das pessoas a morte nessas situações.

Para treinar com segurança planeje-se, e bom treino!

Alan Jacob da Rosa é corredor de montanha desde 2014, montanhista e escalador desde 2001, bacharel em enfermagem, resgatista de montanha voluntário desde 2010 e membro- fundador do GRM (2012).