A dopamina e a corrida

Muito se ouve dizer que a corrida ajuda a melhorar problemas de saúde emocional como ansiedade e depressão.  Eu, particularmente, tenho uma história de cura com esta atividade.

Quando eu tinha de 2 para 3 anos de idade tive uma lesão cerebral que os médicos diziam não ter cura e que eu seria deficiente física e intelectual para o resto da vida.

Após intenso tratamento, com método de um neurocientista da Philadelphia chamado Glen Doman (já falecido), que focava muito na atividade física e com uma boa ênfase na corrida, eu fiz a Iª Corrida Feminina da América do Sul, com apenas 6 anos de idade, e completei o percurso de 5 km em 26 minutos.

Daí em diante a corrida passou a ser um esporte essencial na minha vida. Foi como se, após correr, todo o meu cérebro se reorganizasse de uma maneira impressionante.

No último mês eu estava vivendo um momento de bastante angústia e ansiedade na minha vida pessoal… uma sensação irreconhecível para mim… não conseguia me concentrar e nem ter prazer em mais nada. Conseguia até fazer minhas atividades sem problemas. Disfarçava diante das pessoas, mas internamente tinha um turbilhão acontecendo dentro de mim.

Até que um dia não tive que dar minha primeira aula e resolvi sair para correr. Me dei conta de que o dia a dia como treinadora de canoagem me afastou bastante da corrida, que sempre foi um esporte tão importante para mim.

Foi incrível! Uma corrida rápida, com os cachorros, chuviscando, mas poucos minutos após terminar já me sentia outra pessoa. Toda aquela angústia e ansiedade sumiram! A clareza mental e emocional tomou conta de mim e eu consegui voltar a me concentrar nas minhas atividades diárias com alegria!

Paralelo a isso, comecei a ler o livro DOPAMINA – A molécula do desejo.

Nele, o autor cita que o excesso de dopamina – que toma conta de nós quando desejamos fortemente algo que nos desafia – nos impede de focar no aqui e agora! Diz também que os demais hormônios do prazer (endorfina, serotonina e ocitocina, que denomina de substâncias A&A)) fazem o oposto e nos conectam no momento presente, no prazer do momento, e quando os níveis dessas substâncias se elevam, os níveis de dopamina diminuem, ou seja, a ansiedade causada pela necessidade de resolver, de já conseguir realizar o que se quer, dá lugar a calma e tranquilidade de esperar a hora certa se conectando no aqui e agora.

As A&A são elevados no nosso cérebro quando corremos, o que explica porque a corrida, assim como o esporte aeróbio que cada pessoa tem prazer em praticar, promove uma melhora tão grande no estado de humor e pode, inclusive, curar doenças.

Existem outras formas de promover o aumento das A&A no nosso organismo e eu já escrevi sobre isso num outro texto desta coluna. Essas formas estão ligadas a buscar atividades que gerem mais prazer, alegria, reconhecimento, afeto… Daí a importância também de sabermos escolher bem nossos ambientes, amigos, cônjuges e trabalho.

Já passou da hora de compreendermos que a saúde emocional transborda para o físico, e que se não estivermos emocionalmente bem, o corpo sofrerá as consequências.

Então, antes de se aumentar a busca desenfreada por anfetaminas, como se vê muito hoje em dia, na tentativa de produzir e controlar de forma “artificial” a quantidade desses 4 hormônios tão importantes no nosso organismo, é muito importante que se faça uma análise doa rotina e se inclua atividades físicas (principalmente a corrida) em  um estilo de vida mais baseado no bem-estar e no autoconhecimento.

A cura sempre estará dentro de nós! Basta realmente querermos encontrá-la e termos coragem de clarear nossas sombras através de um trabalho diligente de crescimento e cura interior.